A sua equipe é engajada com o quê?

Para começo de conversa, há que distinguir equipes de grupos de trabalho. São diferentes não só na forma de atuar, mas também na magnitude dos resultados. Grupo é uma porção de gente trabalhando junto, sem muita responsabilidade e autonomia. Equipe é um conjunto de pessoas dirigidas pelo mesmo propósito e orientadas pelos mesmos valores. O mais importante, no entanto, é o engajamento de uma equipe comparado ao de um grupo.

Entenda por engajamento um elevado nível de compromisso  por parte das pessoas. E esse é o maior desafio do líder, nos dias de hoje: fazer com que as pessoas estejam – de fato – presentes no trabalho. Não me refiro à taxa de absenteísmo, palavra estranha, mas muito em voga na era industrial, usada para medir as faltas e atrasos no trabalho. Esse é um desafio menor, amparado por relógios de ponto e leis trabalhistas. Minha referência tem a ver com uma palavra da era da informação, o presenteísmo, que implica a  presença apenas física do funcionário, embora sua alma e sua mente estejam vagando por outras plagas, mais conhecidas como facebook, twitter, redes sociais. Traduzo, então, presença por estar de corpo, alma e mente no trabalho.

Tudo isso para dizer que o líder tem diante de si algo muito mais complexo do que antes. Foi-se o tempo em que um bom técnico podia arvorar-se em chefe. E que tudo o que esse chefe almejava era aumentar a produtividade. Também foi-se o tempo em que a oferta de emprego ditava a regra sobre a mão-de-obra descartável. Pelos quatro cantos do país, ouve-se o termo “apagão de mão-de-obra” e queixas quanto à dificuldade de encontrar pessoas engajadas para trabalhar. Como disse John Doerr, o lendário investidor do Vale do Silício, “no mundo de hoje há uma abundância de tecnologia, de empresários, de dinheiro, de capital para empreendimentos. O que anda escasso são grandes equipes”. Completo: equipes de alto desempenho formadas por pessoas engajadas.

.

A inversão da ordem

Um problema comum em boa parte dos líderes é pensar sempre no que antes de pensar no quem. Primeiro o produto, a estratégia, o resultado; depois, quem vai fazer isso tudo acontecer. É um erro bem comum. E crasso! Inverte-se a ordem, pois os fins são trocados pelos meios. Com isso, as pessoas transformam-se em mão de obra, nada além de um item na mesma linha de custos  de outros recursos, como os físicos, tecnológicos, financeiros. Algo a ser medido e contido para que se consiga o máximo de produtividade e rentabilidade. A questão é que uma equipe não é composta por objetos, desses são feitos os grupos. Equipes são integradas por sujeitos.

Para ter uma equipe engajada, o primeiro passo é pensar no quem antes dos vários ques.

Quem pensa no que antes do quem valoriza mais os ovos do que a galinha até levar a poedeira ao esgotamento, quando não haverá mais ovos nem tampouco galinha.

Para ter uma equipe engajada, o primeiro passo é pensar no quem antes dos vários ques. Isso vai requerer uma mudança na qualidade da liderança. O técnico promovido a líder deverá entender mais de psicologia, filosofia e antropologia do que de engenharia, matemática, economia. Deverá estudar mais a natureza humana do que os métodos e as técnicas administrativas. Deverá ser mais líder do que chefe, mais gestor do que gerente. Em suma, um especialista em quem.

 

A comunidade de trabalho

Warren Bennis, o maior estudioso sobre formação e desenvolvimento de equipes, disse que “o papel do líder já não será focar exclusivamente a produção de bens e serviços. A tarefa mais crítica e importante do líder será a de convocar os indivíduos a criar uma comunidade geradora de riqueza”. Aí está um desafio decorrente: se você pensa em uma equipe formada por sujeitos, poderá pensar em uma comunidade de trabalho geradora de riquezas.

Comunidade de trabalho é diferente de organização, na forma como é aprendida na ciência da administração. Organização sugere normas, procedimentos, hierarquia, controles, burocracia, métodos e sistemas, parafusos e porcas. Comunidade lembra valores, propósito, colaboração, apoio, contribuição, respeito, sentimentos, pensamentos, ideias, estética e beleza. Pergunto: qual ambiente é mais convidativo ao engajamento? A organização ou a comunidade?

Comunidades são geridas por valores humanos. Nelas, a natureza humana é promovida.  Prevalece sobre o sistema técnico. Quais são as motivações nesse tipo de sociedade?

Organizações são geridas por valores organizacionais. Nas tradicionais, a natureza humana é subtraída. Quais são as motivações nesse tipo de sociedade?

Definir o habitat de trabalho é determinante para uma equipe engajada.

.

O arranjo de trabalho

Existem tarefas e existem trabalhos. Grupos formados por pessoas desengajadas se perdem em meio a inúmeros afazeres, sem saber nem mesmo para que servem essas atividades. Simplesmente fazem, muitas vezes no piloto automático. Estão fisicamente ali, mas seus pensamentos vagueiam por outros anseios. Muitas vezes, elas atingem os resultados, respondendo por estímulos como um prêmio ou algum outro tipo de recompensa. Fazem as tarefas na base do “vai assim mesmo”, muito mais pelo que almejam receber em troca do que pela empreitada. Sentem alívio, quando acaba. E pesar quando ficam diante da próxima.

No trabalho, sabe-se porque é realizado. A quem ele serve, para quem se destina, que contribuição gera. No trabalho, gostamos quando atingimos o resultado pretendido, mas também nos sentimos gratificados com todo o processo que nos levou a terminar bem. Cada fase é muito curtida. Na verdade, trabalho é deleite e deleite é trabalho. No trabalho, queremos o resultado e gostamos do processo. Chegamos lá, e nos sentimos nutridos e motivados a fazer tudo novamente.

O propósito e o significado do trabalho fazem com que uma equipe se sinta engajada.

.

O propósito do negócio

O maior desafio humano é o de nos tornarmos pessoas conscienciosas. Existem negócios que promovem a consciência humana, outros, a alienação. Existem negócios que produzem riquezas, outros as anti-riquezas. Existem negócios que ajudam nessa grande obra conhecida como Humanidade. Outros, ao contrário. Pense: a que tipo de negócios os  sujeitos conscienciosos gostariam de oferecer seus dons e talentos?

Afinal: a sua equipe é engajada com o quê?


Vamos conversar?