Você conhece um. Talvez dois. Ou seriam muitos? Quem sabe até seja você…. Refiro-me aos aloprados, essa espécie moderna de ser humano que vive em modo turbo, sem eira nem beira.
O aloprado corre ao invés de caminhar. Não porque tenha precisão, mas porque não sabe mais ir devagar. Vive atrasado para todos os compromissos. Agenda três reuniões no mesmo horário, apostando que vai dar conta. O relógio, para ele, não marca horas, marca atrasos.
O aloprado é multitarefa, ou melhor, “multi-atrapalhado”. Responde e-mail enquanto atravessa a rua, manda mensagem de voz durante o almoço sem se importar com quem está ao lado, participa de uma call com a câmera fechada, enquanto corta as unhas. E o mais intrigante: orgulha-se disso como se fosse um medalhista olímpico. Se existisse pódio para correria improdutiva, estaria no primeiro lugar, com direto a selfie.
A cama do aloprado não é lugar de descanso, mas de despachar o que não conseguiu durante o dia. Vai para a cama com o celular na mão e acorda com ele na cara. Dorme mal, sonha com prazos e acorda cansado – mas já com a agenda cheia de compromissos para ontem. O travesseiro, coitado, nem lembra por onde anda a consciência de seu dono.
Há, ainda, a versão trágica do personagem cômico: o aloprado esquece aniversários, datas importantes, encontros que poderiam mudar a sua vida. Esquece até o que prometeu a si mesmo. Em nome de “estar em tudo”, acaba não estando em nada. Constrói uma biografia de ausências, enquanto jura que está “dando o melhor de si”. É o campeão do desencontro.
Não se trata de julgar. O aloprado não é mau-caráter. Ele é apenas competente em sabotagem. É um sabotador profissional de si mesmo. Corre atrás de uma vida que nunca alcança, por não perceber que a vida é jornada, o contrário de maratona. É caminhada, nada a ver com arrancada. É presença, não pressa.
Há quem diga que o aloprado é vítima da “economia da urgência”, aquela que vale mais parecer ocupado do que estar disponível, mais correr atrás do vento do que sentar para sentir a brisa. O aloprado acredita que, se parar, será engolido. Aposta em um mundo que só respeita quem está com a agenda lotada, o celular em excitação e a alma em exaustão.
A verdade, no entanto, é que quem se respeita não precisa uma vida aloprada. Quem aprende a chegar na hora, a desligar o celular na cama, a olhar nos olhos durante uma conversa, começa a descobrir um segredo ancestral: o tempo gosta de quem sabe usá-lo bem.
Eis, então, uma oportunidade e um convite: experimente desligar a esteira rolante. Distenda a banda larga. Treine a presença como forma de respeito. Escolha, de vez em quando, fazer uma coisa só – e fazê-la por inteiro.
Experimente! Você vai se orgulhar quando se reencontrar.