Era o que estava escrito na placa de trânsito. Pensei comigo: diante do habitual corre-corre frenético, somente uma lombada para nos fazer parar.
Vivemos correndo. Correndo para sair, correndo para chegar, correndo para voltar, correndo para não perder. Mas perder o quê, afinal? O ônibus, o trem, a reunião, a liquidação? Ou será o medo de ficar para trás na corrida invisível de que todos participam?
“Estou na correria” ou “está corrido por aqui”, argumenta, orgulhoso, quem parece disputar uma façanha épica. A pressa virou medalha de honra. Ser ocupado é sinônimo de ser importante e assim seguimos, ocupados até a alma, mas esvaziados até o osso.
O curioso é que, na ânsia de ganhar tempo, somos campeões em desperdiçá-lo. Ganhamos minutos aqui e ali, mas gastamos horas inteiras tentando lembrar onde guardamos a senha, em qual grupo de zap estava aquela informação, onde esquecemos o celular ou os óculos.
De tão apressados, nos tornamos turistas da própria vida: registramos tudo, mas não vivemos nada. Fotografamos a comida em vez de saboreá-la, publicamos o pôr do sol sem apreciá-lo. Somos capazes de perder a própria experiência só para provar aos outros que estivemos lá.
A lentidão, essa velha caduca e desacreditada, está fora de moda. Quem para ao saborear um café é tachado de pessoa folgada. Quem demora a responder um e-mail é considerado um ser de outro planeta.
A calma deixou de ser virtude e passou a ser ofensa. O problema é que é nela que a vida se revela. O café que esfria na mesa porque a conversa está boa. O pôr do sol que insiste em demorar, como se quisesse nos ensinar algo sobre a gratuidade. O abraço que dura alguns segundos a mais e, com isso, produz a ocitocina que traz o bem-estar e pode salvar o dia. Talvez a gente acabe descobrindo que a vida não é pista de corrida, mas campo de oportunidade se estivermos atentos e acesos.
De vez em quando é bom desobedecer ao relógio – esse carrasco de ponteiros insistindo em nos lembrar que estamos atrasados para tudo e todos, inclusive nós mesmos.
E se fôssemos capazes de decretar uma pequena revolução? Um gesto de rebeldia silenciosa, quase subversiva: escolher, ao menos uma vez por dia, fazer algo de propósito lentamente. Escovar os dentes como se fosse um ritual, olhar o céu como se fosse cinema, ouvir alguém sem conferir notificações. Uma calma assumida, uma pausa consentida, um desfrute voluntário, antes que uma lombada atroz nos faça parar compulsoriamente.
Quem sabe, assim, consigamos reverter a lógica: em vez de correr para ganhar tempo, que tal perder tempo para ganhar a vida?