Dizem que a vida é um fio estendido entre dois postes: de um lado, a segurança, de outro, a ousadia. A cada passo, a gente oscila.
Há quem se agarre ao poste da segurança e faça dele a sua casa. É compreensível: o chão parece firme, a previsibilidade conforta, o medo cochicha que é melhor não se arriscar. Mas quem fica por lá, parado, pode acabar descobrindo que a vida também estaciona.
Outros preferem correr para o lado da ousadia, como quem dança sobre o fio. É arriscado, claro – há vento, desequilíbrio e até possibilidade real de cair. Mas é nesse balanço que se experimenta o frescor da liberdade, o sabor da descoberta. É no fio, não nos postes, que se encontra o movimento.
O curioso é que, quando o caos se instala – e ele sempre vem, de surpresa ou de mansinho -, o fio treme. Parece que tudo vai ruir: a crise arranca tapetes, embaralha os mapas, desorganiza as agendas. Justamente nesse ponto se revela algo de que já ouvimos falar: a crise é parente próxima da oportunidade. Onde o chão cede, abre-se espaço para uma nova construção. Onde a ordem antiga desmorona, pode nascer uma nova ordem, mais afinada com o que pedem os novos tempos.
O passado nos oferece resguardo: as lições aprendidas, as experiências vividas, os erros transformados em aprendizados, as dores cicatrizadas. Mas quem se prende demais ao passado acaba virando guardião de arquivo morto.
O futuro, por sua vez, é o campo aberto do risco: é lá onde moram os projetos, as inovações, os sonhos que exigem ousadia. Se vivermos, porém, apenas de futuro, viramos arquitetos de castelos aéreos. O único tempo em que o risco e a segurança podem realmente se encontrar é o hoje.
No mundo dos negócios, isso é evidente. Uma empresa que só olha para trás, protegida pela lembrança de tempos gloriosos, acaba ultrapassada. Uma empresa que só sonha com o futuro, sem agir no presente, perde o timing e deixa a oportunidade escapar. A travessia se dá no agora: quando se decide investir em uma ideia mesmo com incertezas, quando se aposta em um novo mercado sem abandonar os clientes fiéis, quando se equilibra inovação com prudência.
O risco, afinal, não é inimigo da segurança. É a possibilidade de renovação. Sem risco, a segurança se fossiliza; sem resguardo, a ousadia se aniquila. O desafio é aprender a dançar entre extremos, sem morar em nenhum deles.
O fio da vida pede equilíbrio. Não equilíbrio estático, como uma balança parada, mas equilíbrio dinâmico, de quem aceita o movimento, o improviso, a oscilação. É nesse vai e vem que crescemos.
No fundo, talvez seja esse o segredo de atravessar o fio: quando o medo falar alto, lembrar que o risco abre horizontes; quando a ousadia inflar demais, lembrar que o resguardo sustenta a travessia. Assim, passo a passo, entre o passado e o futuro, entre o caos e a ordem, o hoje se revela: não como um lugar de espera, mas como a única ponte verdadeira entre o que já fomos e o que ainda podemos ser.