ADVENTO, O TEMPO DA ESPERA

Início do Advento, o tempo que nos convida a esperar. Mas não uma espera passiva, resignada, de quem aguarda sentado o trem que talvez nem venha. É a espera ativa de quem prepara o terreno interno para algo que algo possa nascer. No fundo, Advento é menos sobre chegada e mais sobre o que nos tornamos enquanto esperamos.

Na época em que estamos, a pressa atropela o propósito e a urgência empurra a vida para o imediatismo. Nessa lógica, o Advento é quase subversivo, pois nos devolve a capacidade de perceber, de ouvir, de sentir.

“Adventar” é abrir espaço para o significado, o silêncio fértil, a pergunta que sustenta nossa nobreza interior – quem sou eu? – e seu complemento ético – quando sou eu?. É criar um intervalo, uma fresta, um respiro que permita às pessoas reencontrar sua própria chama.

O Advento é o tempo de olhar para a vida não pela ótica do desmonte, mas da construção. Não da percepção da falta, mas da percepção da farta, que nasce quando recuperamos nosso acesso à fonte – aquela que, mesmo pequena, insiste em brotar dentro da alma humana.

Talvez seja por isso que esse tempo se conecta tão profundamente à Revolução da Vida. Revoluções verdadeiras não começam com grandes feitos, mas nos pequenos deslocamentos internos. Começam quando alguém decide ampliar seu olhar e enxergar o que ainda não existe, mas já pulsa. Começam quando uma pessoa, uma empresa, umas comunidades voltam a fazer a pergunta essencial: o que preciso preparar em mim (ou em nós) para que algo novo possa nascer?

Nesse sentido, Advento é também um convite à nobreza – aquele tipo que cultivamos por meio do Código de Nobreza, contrário à nobreza dos títulos, da pompa, do prestígio. É sobre a nobreza dos gestos de elegância, do exercício de cuidado – consigo, com o outro, com o mundo.

O nosso maior desafio contemporâneo talvez seja justamente esse: reconstruir o mundo, enquanto nos reconstruímos. O mapa já conhecemos e aplicamos: intenção correta, percepção correta, relação correta, conexão correta e ação correta.

Se o Advento é espera, é também promessa. Promessa de que algo maior pode surgir, quando criamos espaço para que surja. Promessa de que cada pessoa carrega uma centelha de luz – e que nenhuma chama, por menor que seja, deixa de iluminar. Promessa de que a vida pode ser mais do que sobrevivência. Pode ser obra, pode ser poesia, pode ser contribuição.

Por isso, o gesto mais profundo desse tempo talvez seja “benignar vidas”, não apenas salvar, corrigir ou moldar. É acender, elevar, inspirar. É reconhecer que todo ser humano guarda um menino e um velho dentro de si: um que espera, outro que sabe. Um que sonha, outro que guia.

No fim, Advento nos lembra que a verdadeira chegada nunca vem de fora. Ela nasce dentro. E, quando nasce, nos torna capazes de inaugurar no mundo aquilo que antes só existia como sussurro: a nobreza, o bem-viver, o propósito, a consciência, a coragem de ser luz – mesmo em tempos escuros.

Advento não é apenas um período litúrgico. É um estado de alma. É o tempo que escolhemos, de novo e de novo, ser promessa. Ser chama. Ser oportunidade. Que assim seja!

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