Algo muito além do espelho

Muita gente anseia ser reconhecida e espera um retorno. É uma expectativa normal, faz parte das carências humanas. O que oferecemos, no entanto, é apenas aquela ponta visível do iceberg sobre a qual os outros podem tirar conclusões precipitadas, sofisticadas e fantasiosas a nosso respeito. E, a partir daí, começa a se relacionar conosco até aprofundando sua visão, para um iceberg mais completo, mas também ilusório.

Às vezes damos muita importância ao que os outros pensam de nós. É mesmo uma preocupação válida? Se considerarmos que a percepção alheia passa pelo filtro das crenças, pressupostos e preconceitos de quem nos vê, então não deveríamos nos incomodar com a avaliação deles. 

Reconhecer isso é uma libertação. Significa não levar em conta a aparência nem ter desejo de agradar ou receio de desagradar alguém. Nada a ver com descaso para com os outros, mas sim com permitir-se a liberdade de ser quem é, sem o auto monitoramento que nos impede de ir além.

Mas o que fazer com a necessidade de merecer reconhecimento e estima? 

Pense no seguinte: você não se restringe à sua imagem refletida no espelho quando passa diante de uma vitrine, na rua. Aquele é apenas o seu espectro físico. Quem dele se ocupa obstinadamente, desocupa-se do essencial. A fisionomia, você bem sabe, é uma pequena parte de quem você é. Assim, concluir as suas outras características e qualidades a partir de um só aspecto é uma atitude precipitada de qualquer observador. 

Algo bem mais representativo do que você é anima e dá vida à sua fisionomia. Esse algo que não aparece no reflexo de sua imagem no espelho. Quem só consegue enxergar o seu aspecto externo, pouco ou nada reconhece sobre esse detalhe fundamental. Cabe a você, entretanto, bem mais do que aos outros, reconhecer o que o anima. É capaz de saber qual ou o que é esse algo?

Alguns dizem que é uma energia, que eu prefiro denominar de chama. Mas de onde ela vem? Há quem lhe dê o nome de alma, espírito ou mesmo coração. Existe, de fato, algo transcendente que integra a fisionomia transitória. Podemos denominar de consciência o que gera aquela energia ou chama.

Embora também não seja visível e tangível, a chama pode ser sentida e se expressa por meio de atitudes e comportamentos. Observadores percebem o entusiasmo de quem é movido por uma chama inflamada, a partir da consciência. É a ela que cada um de nós deve se dedicar, procurando expandi-la todos os dias, sem atentar para espelhos e reflexos. Para nosso próprio bem e – caso haja intenção correta – de todos!

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