Jugo e jogo

Duas palavras muitos semelhantes, com a mesma estrutura, quantidade de consoantes e vogais, quase uma rima. A mudança de letras de u para o, não é tão sutil assim como parece quando às duas palavras acrescenta-se uma terceira: trabalho. E daí, aquilo que parecia semelhante, torna-se muito diferente. Em verdade, oposto. O trabalho como jugo é muito distinto do trabalho como jogo.

O trabalho como jugo é imposto pela força e pela autoridade. Jugo é o mesmo que canga, a estrutura de madeira colocada sobre os costados dos bois para que possam puxar carroças ou arados. Não é coisa do passado, não. Ao contrário, é bastante usada, ainda, nos sertões das Gerais, de Goiás e mesmo no interior do Estado de São Paulo. Mas, infelizmente, não para por aí. O jugo é também muito presente entre os seres humanos, em trabalhos árduos regidos por ordens autoritárias de chefes capatazes. Sem outras alternativas, pessoas se submetem ao fardo pesado de se repetir todos os dias em trabalhos cujo peso está na proporção direta da ausência de sentido e significado.

É certo que a industrialização seguida da automação transformou muitos trabalhos braçais em mecânicos, mas o jugo, antes físico, prossegue hoje, mais moral e psicológico. E no que se refere ao impacto humano, tanto ou mais agressivo do que antes. O trabalho rotineiro desprovido de sentido e significado continua sendo o jugo que maltrata e deforma milhões de pessoas em todo o planeta.

O trabalho, no entanto, deveria ser como um jogo, desafiador e divertido ao mesmo tempo. Essas características são possíveis se a atividade estiver sob a regência de um líder que está mais de olho no processo do que no resultado. Caso priorize o resultado antes do processo, a armadilha de transformar quem trabalha em um meio é automática. O ser humano assim submetido não passa de alguém destinado a apenas produzir resultados. Útil para fazer o que precisa ser feito e, depois, restaurado para enfrentar outra empreitada. Mas se o líder atentar para o processo, cuidará para que o tamanho do desafio seja condizente com o conjunto de aptidões de quem vai executar o trabalho.

O líder que sabe transformar o trabalho em jogo, conhece o conjunto de competências de seus colaboradores e lança desafios capazes de fazê-los ampliar ainda mais essas competências. Assim, o meio não é a pessoa, mas o trabalho a ser executado. Um meio através do qual todos possam se realizar, contribuir e produzir riquezas.

Abençoado o líder o que sabe transformar o trabalho de jugo em jogo e, portanto, contribui para que as pessoas se realizem, evoluam e se transformem por meio do trabalho. 

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CLÓVIS LIMA JÚNIOR
CLÓVIS LIMA JÚNIOR
7 anos atrás

É com satisfação e alegria imensa que recebo com disciplina e boa ansiedade os textos escritos por você, Roberto Adami Tranjan. Há muito tempo, desde Metanoia em sua primeira edição, aliás – ainda nos tempos já distantes de faculdade li A Empresa de Corpo, Mente e Alma, captei o quanto era diferente e assertiva sua forma de pensar a organização. Indicação contínua em minhas atividades de consultoria. Parabéns, excelente texto! Um dia nos encontraremos, desejo pontual de minha trajetória.

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