Você já se sentiu sem o seu lugar no mundo? Como se não houvesse encaixe, tal como um parafuso quadrado tentando girar em uma porca redonda?
Você já se sentiu caminhando no sentido anti-horário em um mundo que gira na precisão e movimento do relógio? Você já se sentiu sem direção diante dos movimentos que enxerga ao seu redor?
Você já se sentiu fora do lugar diante de valores pessoais que parecem contrários aos que observa quando debruça o olhar sobre o mundo?
Você já sentiu a inoperância de suas ideias diante das ideias prevalecentes, sem nenhuma conexão entre umas e outras?
“Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”, assim começa um conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade. Sim, temos as nossas mãos para fazermos o que precisa ser feito e o sentimento do mundo. As mãos nos habilitam a fazer, mas os sentimentos tanto podem nos impulsionar como nos reter. As mãos encontram-se disponíveis, ávidas por contribuir, mas os sentimentos nem sempre são os mais apropriados.
Antes, é bom que se diga: sentir-se fora de lugar no mundo não é um sentimento, a priori, negativo. Embora às vezes angustiante, pode fazer parte da sensatez e até da preservação da sanidade. Ao examinar o mundo, não nos faltam razões para estranhá-lo. Observando-o com certo distanciamento e de maneira retrospectiva, podemos concluir que o mundo é o que é. Ele não muda, o que muda é o nosso sentimento diante dele e, por consequência, a nossa relação com ele.
Nesse sentido, a melhor relação com o mundo é – pasme! – não ter lugar nele. O desencaixe pode ser uma oportunidade de se relacionar com ele de forma mais compassiva e contributiva. Não se trata de rejeitá-lo ou amaldiçoá-lo, mesmo diante das contrariedades e adversidades, mas de transformar-se e, na medida do possível, ajudar outros a fazer o mesmo.
Concluo com Mãos Dadas, outro poema inspirador de Drummond:
“Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”
Maravilhoso! Sobretudo neste momento em que a insegurança toma o lugar da incerteza em nossas vidas.
Obrigada
Uauuuu me identifico neste momento 100%!!!
Muito bom ler (ouvir) suas palavras!
Também Roberto..
A vida sempre da um jeito. ela sempre recomeça em um ciclo, são as leis da natureza agindo, o calor do sol, o efeito da gravidade, a água, o oxigênio, o milagre da vida orgânica em nosso planeta como a conhecemos. A vida é inevitável. A consciência á Ela é que muda. A consciência muda a cada geração, civilização, a cada conhecimento, com a ciência, com as experiências. Aprendemos com Você : existência x vida ? O despertar para uma consciência evoluída passa por descobrir o poder das virtudes, da vivência dos valores os quais te colocam no caminho melhor. O milagre já fez seu papel em te colocar no mundo. Encontrar seu lugar no mundo é o desafio da existência, ou do despertar de uma nova consciência. ” A arte existe porque a vida não basta” essa frase de Ferreira Goulart nos remete a esse despertar da consciência, quando deixamos de existir somente, e paramos, diante das belezas que nos rodeiam, admiramos!! Uma conexão acontece como o milagre da vida, como uma lei universal, uma consciência se expande. Ainda acredito nesta possibilidade do “Inhotim”. Um ambiente que exerce a “parada” para a reflexão que te impacte um sentimento emocional com a existência, mas não aquela existência já noticia dia dia do quanto ruim a homem pode ser, mas..a existência da bondade, da ternura, do afeto, da compaixão, do quanto o ser humano é divino em todos os lugares do mundo !! Assim naturalmente o que já acontece com milhares de pessoas que despertam suas consciências e mudam suas condições existenciais para a Vida, com significados contando lindas Histórias que marcam na humanidade, encontrando um lugar neste mundo, um propósito. Com toda a certeza a Metanóia é um desses ambientes do despertar.