A gente insiste, mas não funciona

Tem coisas que não funcionam, mas a gente insiste. Quer ver uma delas? Dar conselhos. Não funciona, mas a gente insiste, talvez por acreditar que sim. Quem sabe dessa vez? Mas avalie: tem dado certo? Claro que não! Seja na escola, em casa e, muito menos, na empresa. E, como você bem observa, nesse último ambiente, conselhos correm de lá para cá a torto e a direito, todos os dias. Os líderes devem mesmo acreditar que eles funcionam. Penso que você esteja lendo ressabiado. Ora concordando, quando lembra dos conselhos dados que não funcionaram, ora discordando, para não perder o chão, ao constatar que faz isso de maneira contumaz como líder.

Sim, dar conselhos é a prática mais compreendida do que seja liderar pessoas. Confirmei isso ao observar o entendimento de centenas de líderes que já passaram nos programas da Metanoia. Daí bate uma curiosidade plausível, suponho: e se o conselho for solicitado? Então, para contrariar ainda mais sua pressuposição, lá vai a resposta: tente negar. Se houver insistência, dê com comedimento. Ou seja: evite ao máximo. Conselhos não funcionam.

Outra coisa que não funciona e algo semelhante é a sugestão.  Parece igual, mas não é. Conselho é uma opinião, um parecer. Sugestão, uma proposta. Refiro-me ao ambiente empresarial, onde milito há mais de três décadas. Canso de ver, com extrema frequência, líderes frustrados por não verem suas sugestões acatadas. Algumas vezes, por obediência e juízo, alguém as coloca em prática, porém com efeito episódico e sem os fundamentos de quem as fez. Portanto, sugestões não funcionam.

Para ficar ressabiado de vez, saiba que ensinar também não funciona. Muitos líderes adotam atitudes professorais na expectativa de que as pessoas aprendam. Mas ensinar é uma coisa, fazer com que aprendam é outra. Parece igual, mas o movimento é diferente. E, se você já tentou ensinar, estou certo de sua frustração. Ensinamentos não funcionam.

Muito bem! Diante disso tudo, vale a pergunta: então, o que funciona? Apenas uma só coisa tem chance de dar certo: oferecer informações que ampliem as percepções das pessoas.

Você, como líder, pode oferecer uma informação sobre o comportamento de determinado colaborador para que ele, e somente ele, faça bom proveito disso. Você também pode oferecer informação sobre o trabalho de uma pessoa, ampliando o seu campo de visão, para que ela, e somente ela, possa decidir a melhor forma de realizá-lo. Pode, ainda, oferecer informação sobre o mercado, o futuro, a estratégia da empresa para que ela, e somente ela, seja capaz de incorporar essa contribuição em suas decisões e ações.

“Conselhos, sugestões e ensinamentos não são informações?”, você poderia perguntar, na tentativa de buscar uma contradição nisso tudo. Não, não se trata da mesma coisa. A sutil, mas fundamental, diferença entre oferecer uma informação e dar um conselho, sugestão ou ensinamento, é a intenção. No conselho, sugestão e ensinamento, o líder sempre se coloca em um patamar acima, e a superioridade de quem sabe sobre quem não sabe afeta a relação.

Uma informação é algo concedido no ombro a ombro, do igual para o igual. Do jeito que as pessoas gostam: como um amigo. Que sabe lidar bem com três palavras que realmente funcionam: apoio, reforço e encorajamento. E se limita ao delicado exercício de oferecer informações.

Ofereço a você a verdadeira contradição do que expresso, aqui: de fato, conselhos, sugestões e ensinamentos não funcionam. Não tenho, portanto, a menor pretensão de que minhas palavras causem algum efeito ou mudem uma atitude.  

Seguimos, então, cada um de nós com suas próprias opiniões. Quem sabe com uma ponta de inquietação. Vale para balançar um pouco a mesmice das certezas absolutas. 

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