Enriquecer depende da coerência

A liderança revela-se – não apenas nos discursos – mas sobretudo na coerência entre o que se pensa, o que se faz e o modo como se relaciona com o mundo. Um líder íntegro é aquele que sustenta a mesma lógica – a mesma visão de mundo – ao examinar a economia, avaliar o mercado, tomar decisões estratégicas e lidar com gente.

Tal coerência, embora rara, é decisiva. Mas, atenção! Pode operar em dois sentidos: o da falta e o da farta.

Quando o líder encara a economia a partir do paradigma da falta, tudo se torna um jogo de sobrevivência. Os recursos são poucos, os concorrentes, inimigos, os clientes, alvos e os colaboradores, peças de engrenagem.

Essa visão fragmenta a realidade e tensiona as relações. O foco se concentra no controle, na eficiência técnica e na maximização dos ganhos, custe o que custar. O medo passa a ditar as estratégias. É como se houvesse um cobertor curto demais e cada puxada, em um lado, deixasse o outro descoberto.

Essa lógica, embora amplamente disseminada, é empobrecedora. Cria empresas ansiosas, ambientes tóxicos e mercados hostis.

Já o líder que opera a partir da lógica da farta enxerga outro mapa. Ele entende que riqueza não é acúmulo, é fluxo. Que o valor se multiplica na medida em que é compartilhado. Que o mercado é um campo de trocas e contribuições, não um campo de batalha. Que os clientes são parceiros, não presas. Que os colaboradores são talentos vivos, portadores de propósito, não apenas força de trabalho.

É um líder coerente com a ideia de que há o suficiente para todos. Ele valoriza relações baseadas em confiança, promove uma economia ao natural e gera contextos em que todos possam prosperar. Seu olhar para o mercado é generativo, não extrativista. Seu jeito de fazer gestão é humano, não predatório.

A coerência entre visão econômica, decisões de negócio e trato com as pessoas forma o alicerce de uma liderança madura.

Incoerência, por outro lado, não se sustenta por muito tempo. De nada adianta defender a empatia nas relações internas, quando existe desdém nas relações com os clientes. Nem pregar o bem-estar, enquanto se adota práticas predatórias no mercado.

A liderança coerente nasce do alinhamento entre intenção, percepção e ação. Começa no desejo, passa pelo olhar e se desdobra em escolhas e gestos condizentes.

O mundo não precisa de líderes perfeitos. Precisa de líderes coerentes, que inspirem o que vivem, que façam sentido com o que dizem e que, sobretudo, enxerguem a farta onde muitos só veem a falta.

No fundo, toda liderança é uma aposta: na coerência ou na incoerência; no medo ou na vida.

Por isso, eis duas perguntas simples e poderosas: a sua forma de liderar revela o que você realmente acredita sobre o mundo? Atua como quem vê faltas por toda parte ou como quem acredita que a vida, bem cuidada, sempre transborda?

Sua resposta é fundamental para o que realmente pretende ser.

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