O compromisso e a causa

A pandemia abriu uma fenda nas relações de trabalho preenchida, hoje, por muitos questionamentos. Será que vale a pena retornar ao emprego? Será que os esforços compensam para aquele tipo de trabalho? Será que estou fazendo o melhor uso do tempo? Será que a vida merece ser vivida do jeito que era antes?

Não foram poucas as pessoas que aproveitaram a experiência de isolamento compulsório para rever o cotidiano, no trabalho. O grau de comprometimento sofreu abalo naquele momento dramático da nossa história. Líderes e empresas estão assustados e preocupados com a hecatombe que está se processando nas relações laborais.

O fato é que nem tudo se compra, nem tudo se vende. O comprometimento é algo que não está à venda. De nada adianta preencher com algo material (remuneração, bônus, prêmios) o vazio de sentido nos empregos convencionais. Muitas vezes, a opção por uma alternativa que remunera melhor se dá muito mais para compensar a ausência de sentido.

O comprometimento é uma energia psíquica-emocional-espiritual que cada pessoa escolhe para onde canalizar e a quem deve oferecer. Nos empregos medíocres, ela nem se apresenta, direcionada preferencialmente para atividades sociais, esportivas ou religiosas e – pasme! – sem nenhuma remuneração. Não é o dinheiro, portanto. É o sentido e o significado.

Ninguém é capaz de fazer com que alguém se comprometa. Criar as condições favoráveis para que as pessoas se comprometam é a única opção. Sentido e significado são palavras mágicas para denominar o que pode emergir naturalmente no ambiente de trabalho por meio de uma varinha de condão também conhecida como propósito.

Se o propósito é então, por acréscimo, construído coletivamente, maior ainda a sua potência e a força gravitacional para atrair comprometimentos. É o sonho que se sonha juntos transformado em realidade. 

“O mundo mudou! ”, diria o líder, confuso e desacorçoado, diante da aparente novidade que ele desconhece.

Mudou e não mudou. As pessoas continuam buscando preencher o vazio de sentido já existente antes, mas que, agora, está gritando aos corações aflitos que experimentaram um cadinho de liberdade. Depois de vivenciá-la, buscam vivê-la intensa e perenemente, em vez de limitar-se a barganhar tempo por dinheiro.

A questão física também significa menos, quer seja ficar em domicílio ou na surrada discussão do modelo híbrido como a alternativa de trabalho para o futuro. “Que o compromisso e a causa sejam o seu lugar de trabalho”, já dizia Peter Block, renomado autor de livros sobre desenvolvimento organizacional.

Importa, portanto, a decisão e o compromisso de viver, juntos, o mesmo propósito. Esteja cada um onde estiver, em qualquer tempo. Quem não acordar para tal verdade perde a chance de viver o trabalho em plenitude.

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