O inferno não são os outros

Se alguém lhe der um soco na cara, é claro que vai doer. Você pode revidar, na tentativa de compensar a agressão, mas isso não evitará o olho roxo ou um dente quebrado. A dor é física e real.

É muito rara a possibilidade de tomar um soco na cara, a menos que você pratique o pugilismo como o seu esporte predileto. Caso contrário, agressões físicas são insólitas. A maioria das que recebemos não é física, mas emocional. E praticamente diária. Inferniza a nossa vida.

Chamamos essa hostilidade comum de “sentimento ferido”. Acontece quando somos insultados, vítimas de fofocas ou difamações, rejeitados, ignorados, enganados e traídos. É, também, algo que nos acomete, com muita frequência, quando as pessoas não correspondem às nossas expectativas. “O inferno são os outros”, disse certa vez o filósofo Jean-Paul Sartre, considerando que as agressões, físicas ou emocionais, decorrem sempre da presença de alguém mais.

Ao revidar a investida real, provavelmente a reação esteja relacionada à dor emocional, não à física. O que provoca a revanche – a não ser em situações de legítima defesa – é o sofrimento emocional causado pela raiva e pelo ressentimento. Discernir entre a dor física e a emocional é uma questão de consciência e maturidade.

Já passei por xingamentos no trânsito – quem nunca? –, mas tive de fazer uma escolha súbita: refrear meus sentimentos e me conter ou partir para a réplica.

Talvez a gente não consiga evitar a agressão física de alguém incapaz de controlar suas emoções. Mas sempre evitaremos o revide se formos senhores de nossas emoções. Emocionalmente ninguém vai nos ferir, a menos que usemos os outros para tanto. Ou seja, posso me sentir rejeitado a partir da atitude de uma outra pessoa, mas tal sentimento é produzido por mim mesmo. O mesmo vale para a frustração, quando alguém não corresponde à minha expectativa. Se compreendermos isso, veremos que o inferno não são os outros.

Consciência e maturidade requerem controle sobre as próprias emoções. É libertador saber que podemos ser criadores de nossos sentimentos e das emoções que nos arrebatam. É uma sublime vitória sobre o inferno que somos nós mesmos, também conhecido como ego.

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