O que você vai ser quando crescer?

Para que servem os planos de carreira? Eles me lembram aquela pergunta chata que alguns pais fazem para os seus filhos: “o que você vai ser quando crescer? ”.

Perguntas chatas geram respostas achatadas. E são chatas porque implicam expectativas! Os pais esperam que o filho decline alguma profissão, de preferência bem remunerada. E a resposta achatada, também na expectativa de agradar aos pais, remete às clássicas alternativas: engenharia, medicina, advocacia. Clichês, nada mais.

É como se o conjunto de múltiplas inteligências, dons e talentos, sempre único em cada pessoa, se enquadrasse em um pequeno rol de atividades padronizadas. Melhor seria se os pais, ao invés de olhar para fora, o mercado de trabalho e suas mesmices, prestassem atenção nos talentos e potenciais de seu filho, para que ele se transformasse em alguém capaz de alguma diferença, não importa a escolha feita.

Seria muito mais interessante se os pais substituissem o refrão “o que você vai ser quando crescer? ” pelo instigante convite: “do que vamos brincar, hoje, para que a vida continue alegre e próspera?”. E, juntos, conseguissem aprender mutuamente, na esperança de que o futuro seja apenas uma decorrência do presente.

Dada a analogia, voltemos aos planos de carreira. Uma empresa reúne um conjunto de múltiplas inteligências e talentos e, infelizmente, enquadra essa diversidade de dons e aptidões em cargos previamente descritos por algum burocrata. O que é naturalmente abrangente, inusitado, especial e único, transforma-se em cargos padronizados, reduzidos e autômatos. É como decretar: “isso é o que você deve ser, todo o resto deixe de fora”. E o que fica de fora geralmente é o melhor, pois nenhum cargo vai dar conta de abarcar o potencial humano que habita cada pessoa.

Plano de carreira é o mesmo que perguntar “o que você vai ser quando crescer?”. O candidato, agora competidor (as caixinhas de cima do organograma são sempre em pequeno número), vai pensar mais em olhar para fora e para os quesitos do cargo do que para as suas próprias potencialidades. E ficará de olho no aumento de remuneração, em vez de fazer o melhor uso dos seus dons e talentos.

Da mesma maneira, melhor seria assegurar o momento presente. Que ele seja feito de estimulantes diálogos, bons relacionamentos, propósitos comuns, valores virtuosos, liberdade e criatividade para ser quem verdadeiramente se é. Essa é melhor carreira.

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