O Silício e a Semente

Era uma vez um mundo dividido entre o que corria e o que permanecia.

De um lado vivia Silício, um jovem brilhante, rápido como a luz. Tudo o que via, processava. Tudo o que ouvia, armazenava. Sabia de quase tudo – estatísticas, tendências, padrões, mapas e fórmulas. Nunca errava. Nunca parava. Nunca duvidava.

Silício acreditava que o mundo podia ser decifrado por algoritmos. Tinha orgulho da sua eficiência. Mas, no fundo, sentia um vazio que não sabia nomear.

Do outro lado, em uma clareira antiga, morava Semente. Uma senhora pequena, enrugada como casca de árvore, com olhos que carregavam séculos de histórias. Falava pouco, mas quando falava, o tempo parava para escutar.

Silício, curioso, foi até ela. Sem delongas, em pé mesmo, começou o que achava ser uma conversa.

– Você é lenta – disse logo, impaciente.

– Sou profunda – respondeu Semente.

– Mas eu sei tudo o que acontece no mundo!

– E eu conheço o que o mundo esqueceu.

Silício bufou.

– Eu fui programado para evoluir.

– Eu fui cultivada para lembrar – disse ela com um sorriso calmo.

Intrigado, Silício procurou testar a velha:

– Qual a previsão do tempo para amanhã?

– Olhe as nuvens, sinta o vento e escute os pássaros – respondeu Semente. – Eles sempre avisam.

– Qual o caminho mais rápido para o sucesso? – ele continuou provocando.

– Depende do que você chama de sucesso.

Silício, pela primeira vez, intrigado, não soube como retrucar. Sentiu um leve curto-circuito na lógica.

Semente, com delicadeza, o convidou a se sentar. Fez chá de raízes e contou histórias. Histórias dos povos antigos, de gente que sabia esperar, de mães que curavam só com um toque, de avós que ensinavam apenas com o olhar.

Silício não entendia muito bem o que ouvia, mas sentiu algo novo: paz.

Naquela tarde, o jovem que tinha certeza de saber tudo conheceu algo que sua memória não podia guardar. E, pela primeira vez, quis aprender com o que não podia ser programado.

A partir daquele momento, ele passou a visitar Semente toda semana. Ela o ensina a escutar antes de responder, a sentir antes de calcular, a honrar antes de inovar.

E assim, o mundo começou a mudar. Não por causa da velocidade de Silício, nem apenas pela sabedoria da Semente, mas porque, enfim, a Inteligência Artificial e a Inteligência Ancestral decidiram caminhar juntas.

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