Quando os sete arquétipos visitam o Menino

Um Natal para renascer a vida

Estamos no Advento, tempo silencioso, profundo e humilde em que preparamos o coração para a chegada da luz. Advento significa vinda. Mas vinda de quê? Vinda de quem? Vinda de algo novo dentro de nós.

Depois de um ano inteiro de jornadas, desafios, quedas e reerguimentos, alegrias e cansaços, o Advento nos pergunta com ternura: “o que precisa nascer em você para 2026 ser extraordinário?”.

Para ajudar nesta reflexão, convido você a caminhar até um lugar simples: a manjedoura. É no simples que as grandes luzes nascem. É no pequeno que o essencial se revela. É na humildade de uma criança que os caminhos se reordenam.

E é ali, naquele abrigo pobre, que viveremos uma cena inédita: em vez dos três Reis Magos, chegam sete visitantes.

Sete arquétipos humanos. Sete modos de existir. Todos os sete vivem dentro de cada um de nós.

Eles chegam trazendo sua biologia – seus impulsos, medos, forças brutas, histórias não lapidadas – e, diante do Menino, sua biografia começa a despontar. No silêncio radiante daquela criança, cada um descobre sua forma luminosa, nobre, honrada, consciente de viver.

A noite é calma. Estrelas vigiam o estábulo com cheiro de capim fresco e madeira. Maria e José guardam o Menino com olhos de assombro doce. A luz que emana do recém-nascido não ofusca – revela.

É o espaço do renascimento humano, em que a biologia se converte em biografia.

E os sete visitantes começam a chegar.

O primeiro é o guerreiro.

Pisa firme. Carrega a energia da ação, do ímpeto, da resistência, do enfrentamento.

Passou o ano entre ataques e defesas. Sonos com sobressaltos. Revidou, quando se sentiu ameaçado. Viveu muitas batalhas e adrenalina.

Fui feito para combater, resistir, enfrentar” – disse ao Menino. “Essa é a minha biologia. Levantei espadas onde bastava estender a mão. Confundi várias vezes ser forte com ser duro.”

A luz do Menino toca o seu rosto cansado e algo se desfaz dentro dele.

Ensina-me, Menino, a lutar apenas pelo que importa. A ser força que ampara, não força que impõe.”

Com suas virtudes de eficácia e resiliência, o guerreiro passa a combater o bom combate.

O segundo visitante é o jogador.

Vem com o passo leve, cheio de ginga, porém com a alma inquieta.

Passou o ano acreditando que não há lugar para todos. Por isso correu, competiu, disputou – às vezes de forma astuta demais.

Essa é a minha biologia: vencer, mas minhas vitórias têm me custado a paz” – disse ao Menino.

Ao olhar o Menino, seu rosto desconfiado se suaviza. Um outro tipo de alegria se acende.

Ensina-me, Menino, a trocar a falsa euforia pela alegria verdadeira. A substituir o ‘levar vantagem’ para o ‘oferecer vantagens.”

Com suas virtudes de determinação e arrojo, o jogador passa a fazer as suas apostas na Vida.

O terceiro é o curioso.

Entra olhando tudo. Buscador incansável. Passou por desertos internos, ora com vontade de voltar atrás, ora com temor de seguir em frente.

Eu venho das buscas, das perguntas, da vontade de descobrir, essa é a minha biologia,” – disse ao Menino – “mas me perdi em dúvidas demais. Quis entender o mundo inteiro e me esqueci do essencial”.

Ele dobra os joelhos diante da criança-luz e pede:

Ensina-me a fazer a pergunta certa, a descobrir o que liberta e a enxergar o que não consigo ver”.

Diante das suas virtudes de persistência e dinamismo, o curioso desembaça as lentes e a miragem se transforma em imagem.

Chega o quarto: o perito

Arrasta uma mala repleta de livros, teorias, métodos e métricas.

Estudou muito, acumulou conhecimentos, divagou de canto em canto em busca da verdade.

Eu venho da competência, da técnica, da precisão, mas perdi o coração em nome do resultado” – disse, apresentando a sua biologia.

Diante do Menino, o perito depõe sua mala no chão.

Ensina-me a unir precisão com cuidado, habilidade com amor, técnica com humanidade.”

Com suas virtudes do conhecimento e da busca da verdade, o perito reencontra o sentido de construir a Vida.

O quinto visitante é o artista.

Ele não chega – ele acontece. A beleza vem com ele.

Passou o ano tentando ser fonte absoluta de criação, esquecendo-se de que toda inspiração é sopro.

Eu venho da imaginação, da expressão…mas, às vezes, confundo beleza com exibicionismo.”

Ao olhar o Menino, é como se visse o primeiro nascer do Sol.

Ensina-me a criar a beleza que cura, a imaginação que fecunda, a arte que congrega. ”

Cem excelência e sensibilidade, o artista volta ao mundo dando cor, sabor e som ao que estava pálido.

Depois, o solidário.

Aproxima-se com calma mansa, os braços calorosamente abertos.

No ano que passou, confundiu compaixão com complacência e carregou dores que não eram suas.

Eu venho do cuidado, do serviço e da ajuda” – disse. Baixando o rosto, continuou: “Mas me perdi no peso dos outros”.

O Menino sorri, e o solidário inclina o corpo.

Ensina-me o amor maduro, o cuidado que fortalece e a compaixão que sustenta. ”

Com as virtudes do cuidado e da generosidade, o solidário sai para espantar a solidão e o abandono de muitos.

Por fim, o cultivador.

Vem com passos de quem conhece o tempo. Traz terra nas mãos e esperança no bolso. E diz:

Eu venho da constância, dos rituais que sustentam. Mas achei que estava imune às armadilhas do mundo. ”

Oferece uma semente ao Menino. E pede:

Ensina-me a cultivar o futuro, a semear a esperança, a regar a Vida. ”

Com humildade e equanimidade, parte para transformar a selva do mundo em jardim.

E agora, o Advento volta a perguntar

O que precisa nascer em você para o próximo ano?”

Que presente você quer levar para o Menino? A coragem do guerreiro? A ousadia do jogador? A descoberta do curioso? O aprendizado do perito? A criatividade do artista? A generosidade do solidário? A vocação humana do cultivador?

Cada arquétipo oferece a biologia do caminhar, mas você escolhe a biografia.

Que este Natal seja luminoso. Seja 2026 o ano em que você se torne – com plenitude e nobreza – aquilo que nasceu para ser. Que você seja mais humano do que jamais foi e coloque sua alma a serviço de semear as boas sementes da Revolução da Vida.

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