A rainha e a plebeia

Vivemos uma crise ética. Não que seja um fato novo, mas acho que nenhum de nós acreditava que fosse de tamanha proporção. A corrupção, a maior expressão desse fenômeno, é, sem dúvida, um vírus social avassalador, corroendo o que existe de mais importante em uma sociedade: a confiança. E perder a confiança, tanto nos que governam, como em nossos semelhantes mais próximos e também no futuro, é um desastre incalculável.

Sem confiança, para onde iremos e com quem iremos? À primeira vista, então, parece que nada pode ser pior que isso. Ou será que existe algo capaz de piorar ainda mais a catástrofe? Sim, existe! A economia, sempre que ela prevalece sobre a ética.

A economia é a Grande Rainha. É tudo por ela e para ela. É determinante. Ética vem depois, muito depois e, não bastasse tamanho lapso, ainda se dobra diante da Grande Rainha. No reino em que a Grande Rainha dá as cartas, a ética é a plebeia.

Funciona assim: se a Grande Rainha vai bem, tudo se esquece, tudo se relativiza e tudo se deixa passar. A plebeia Ética e suas irmãs, a Dignidade, a Lealdade e a Justiça vêm depois. Se todos os barcos são impulsionados pelos ventos favoráveis, por que se preocupar? Deixa-se para depois a Ética e suas irmãs! Elas perdem a prevalência.

Da mesma forma, se a Grande Rainha vai mal, todos tentam salvá-la e as atenções também se desviam da plebeia. A Soberana, antes de tudo! E, em coro coletivo, a plebe mais uma vez a ela se curva. A plebeia e suas irmãs perde a urgência.

Em síntese, é a monarca a reinar, sempre. Quando tudo vai bem e quando tudo vai mal. O resto, que inclui a ética, a dignidade, a lealdade e a justiça é para quando der tempo. Mas esse tempo nunca chega, pois a prioridade é para os altos e baixos constantes da realeza.

A Grande Rainha no comando é um mal sem fim. Na sociedade, bem como na empresa, a dimensão econômica não pode se sobrepor à dimensão ética, sob risco de, como povo, nunca nos transformamos em nação ou jamais criar uma empresa verdadeiramente geradora de riquezas, além da econômica.

Existem duas trilhas a seguir: a da Grande Rainha, em que prevalece o brilho do ouro; ou a da Plebeia, em que prevalece a luz da confiança. Quem opta pelo brilho do ouro, pensa apenas em sua conveniência e prefere contar o vil metal. Quem opta pela luz da confiança se concentra em seu caráter e prefere somar as riquezas.

A decisão está em nossas mãos… e em nossa consciência!

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