Deixe de viver no mundo da ilusão

Vi que você torceu o nariz quando eu disse que não acreditava em planejamento estratégico. Sei que não é fácil quebrar ícones que vigoram há décadas no mundo empresarial, endossados pela ciência da administração e por alguns empresários considerados bem-sucedidos.

Constate, a partir de sua própria experiência. Tem funcionado em sua empresa?

Um pouco de história: o planejamento estratégico surgiu na década de 60, de inspiração belicista, usado como estratégia militar. Tinha, portanto, outra finalidade, diferente da que hoje se pratica no mundo dos negócios. Não levava em conta o desafio de conquistar e reter clientes. Aliás, o cliente nem sequer era considerado, pois o concorrente sempre foi mais importante. Fazia a vez dos inimigos. Daí ser impossível seguir em frente sem conhecer seus pontos fortes e fracos, para desarmá-los e avançar sobre seus territórios, entre outros estratagemas da arte da guerra.

No planejamento estratégico clássico, analisam-se as ameaças e oportunidades do mercado junto com os tais pontos fortes e fracos da empresa. A famosa análise SWOT, sigla oriunda do idioma inglês, (e) é um acrônimo de Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats). Na língua original, parece ter mais legitimidade e credibilidade, mas não se engane. O Velho Mundo carrega suas crises e delas não consegue se livrar. Considere também que essa ferramenta da administração tem meio século de existência. Muitas coisas mudaram nesse largo período, assim o planejamento estratético continua sendo usado no presente com a mesma utilidade que teria uma bigorna, agora.  

 

O planejamento estratégico não funciona porque se atem a combater as ameaças e os pontos fracos. Busca-se a defensiva ao invés da ofensiva e o medo, uma vez instalado, conspira contra a imaginação e a criatividade, elementos imprescindíveis para preparar o futuro.

 

Note que eu me refiro a “preparar o futuro”, não a  “prever o futuro”. Talvez isso explique porque você continua lançando mão dele, ano após ano, muitas vezes com apoio de consultores, sem que a coisa dê certo. É que, no fundo, esse instrumento ultrapassado só funciona para você, pois supre a sua necessidade de controle sobre um futuro fugidio, efêmero, arisco, que se desmancha como espuma do mar. Apazigua, na mesma medida em que alimenta, a sua ilusão do controle.

 

Basta um entrave na economia e no mercado para que um planejamento estratégico seja jogado por terra, ainda que, ao final do ano, outro, novo, comece a ser elaborado. Um exercício inútil, repetido contínua e automaticamente. Isso quando ele não se reduz àquela peça denominada de orçamento. Que, por sinal, também é inócua. Pode torcer o nariz novamente. Mas, sossegue. Trataremos disso em outra oportunidade.

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