O dom de se corrigir

“Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero”. Se até Paulo, o apóstolo, tinha deslizes, quiçá nós, pobres peregrinos, errantes e erráticos. 

O mal não é algo distante, em verdade nos rodeia constantemente. Uma vez infiltrado nos pensamentos e sentimentos, o próximo passo é incorporá-lo às ações. Por isso, é preciso tomar consciência dele, antes que se manifeste e deixe marcas, ainda a tempo de fazer a conversão e retomar o caminho.

O mesmo Paulo, depois santificado, continua nos ensinando quando diz “para não desprezar a educação do Senhor, nem desanimar quando Ele repreende”. E deixa claro ao acrescentar que “o Senhor corrige a quem ama e castiga a quem aceita como filho”. 

Castigo é uma palavra forte, mas implica que a correção virá pelo amor ou pela dor. Sabemos disso intuitivamente, certos de que desvios éticos nos deixarão contas a pagar. E tudo é uma questão de tempo. A correção precisa ser feita, para o bem de todos e do errante, em particular. 

“Nenhuma correção parece alegrar, mas causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça”, conclui o santo homem. 

Paulo já havia sido Saulo. No arquétipo de Saulo, o guerreiro implacável que combatia os cristãos e seguia as leis dos homens. No arquétipo de Paulo, o cultivador compassivo que preferiu substituir as leis escritas em tábuas por outras, gravadas no coração. Em vida, conseguiu restituir a sanidade em um mundo conturbado. Fez a metanoia dele.

O peregrino busca a correção, não a perfeição. Sobre isso, discorro no livro Chamamentos: “correto é aquilo que se corrigiu. É muito provável que, antes, havia sido incorreto, mas retomou, fez a conversão, eliminou falhas e, agora, segue com nova cepa, boa estirpe, índole e caráter, honradez e dignidade. Não é, portanto, a perfeição, mas a busca do perfectível, ou seja, do que se possa aperfeiçoar em nós, para que, assim, nos tornemos humanos”. 

Quiçá, mais santificados. 

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Juliana Sanna
Juliana Sanna
4 anos atrás

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