O propósito é cultivo, mais que definição

“Não há vento favorável para quem não sabe para onde ir” ensina o filósofo Sêneca. Finalmente, portanto, compreendeu-se a importância de um propósito na vida, tanto pessoal como empresarial. Sem ele, caminha-se a esmo, sem razão de ser e motivação de existir.

O propósito não é mera frase de efeito, a ser delegada à área de comunicação e marketing, resultando quase sempre em um slogan, bonita por fora, vazia por dentro.

Também não é uma definição de poucos, apenas uma declaração de intenção, em que a maioria dos colaboradores não se reconhece e, por isso, não se engaja.

Em uma empresa, para que o propósito cumpra a sua função, deve ser um cultivo coletivo. Antes, porém, é preciso compreender o propósito do propósito. Para que serve, a quem serve, como serve?

Deve, sim, estar voltado para fora, de maneira a servir a algo ou alguém. Na empresa, o cliente é uma boa inspiração, embora não seja a única. Entre outras alternativas estão o meio ambiente, a diversidade e a preservação da espécie. O que não pode é estar desconectado da vocação original, da intenção primordial, da semente de tudo.

Muitas definições de propósito estão desconectadas da primeira intenção, resultando em segundas intenções. Mais distorcem do que orientam, mais confundem do que esclarecem. A conexão entre a inovação e a tradição é um dos segredos dos propósitos bem elaborados.

Tudo começa na escavação, no desenterrar da própria alma da empresa a intenção original, e só depois voltar-se para fora. Compreendido dessa maneira, um propósito é mais enraizamento do que desenvolvimento.

O verdadeiro propósito – tanto pessoal como organizacional – deve seguir a ordem natural. Como em uma árvore, começa na semente e na raiz, depois abrange o caule, os galhos, as folhas e os frutos. A natureza é mestra. Tem o seu tempo e de nada adianta apressar-se na colheita sem antes cuidar da germinação, das regas e das podas. Também não se trata de amaldiçoar a árvore por seus frutos sem antes avaliar o solo onde foi plantada.

No mundo turbulento e fora da ordem em que vivemos, o propósito pode nortear, oferecer um senso de orientação e, sobretudo, paz de espírito, para que possamos continuar comprometidos e confiantes na sublime experiência chamada vida.

 

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